In, www. Portal do Fado.net, 12 de Agosto de 2010,
O "sétimo fado" de Joana Amendoeira
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Um êxito que não se concede facilmente; está reservado a uma pequena minoria que o obtém somente após uma luta coroada de esforço, inteligência, valentia, determinação e talento.
O sete é um número cabalístico que busca os significados ocultos da vida. São sete os pecados capitais e as virtudes, os dias da semana e as notas musicais, bem como as cores do arco-íris, o número das colinas de Roma e de Lisboa; sete foram as palavras proferidas por Cristo crucificado e são também sete as artes e os sábios da Grécia. Sete anjos com sete trombetas anunciarão o dia do Juízo Final.
Sete maravilhas tem o mundo e sete são os mares da Antiguidade, os dias da Criação e os braços do candelabro judeu. É, afinal, o número de Deus, o número da perfeição. Foi este o número que Joana Amendoeira escolheu para nomear o seu sétimo álbum, “Sétimo Fado”, composto por dezassete temas. Apresentado no CCB no passado mês de Abril, foi, naturalmente, o destaque do seu repertório no concerto que aconteceu na passada segunda-feira na Praça do Município em Lisboa, inserido no Festival dos Oceanos. Do professor Ruy Nery, figura incontornável para quem quer mergulhar a fundo no mundo do fado, chega-nos a ideia de que “o fado está vivo e, consequentemente evolui e cresce, à semelhança de qualquer ser vivo.
E assim se vão imiscuindo fados com marchas e estas com alguma balada, umas vezes acompanhadas da forma tradicional, outras por um quinteto de instrumentos – reminiscência de Mar Ensemble – sem embargo contudo da sua essência fadista. Fado Vianinha: “Todas as Horas São Breves”, talvez o melhor trabalho de Hélder Moutinho. “Fim da Saudade” (F. Cravo) onde a guitarra de Pedro Amendoeira brilha con luz propria; “Resposta Fácil” (F Corrido) e “O Nome que Tu me davas” (F. S. Luzia), com letra de João Monge, um dos melhores temas do álbum. A Alegre Marcha: Lisboa no Coração, onde uma discreta percussão faz o contraponto. As Sete Operações, tema divertido e original com letra de Vasco Graça Moura, entre outros.
A sua voz doce e limpa, cheia de nuances, perfeitamente equilibrada, vai acariciando cada verso sem alaridos desnecessários nem os adornos melodramáticos tão em voga hoje em dia. Vai-se tornando mais madura e profunda, ainda que em alguns momentos navegue ao sabor da frescura dos primeiros trabalhos. O seu timbre feminino parece contudo ocultar um nó na garganta, aquela pena-dor-saudade-tristeza e alegria, propriedades intrínsecas do fado. A maturidade profissional de uma artista detentora de um já extenso percurso profissional que sabe escolher os seus temas e tem a consciência exacta dos sentimentos que os poemas que canta encerram. Definitivamente, uma das fadistas mais sólidas e completas da cena actual.
Um álbum completo e variado. Fácil de ouvir pela diversidade e musicalidade, mas que nos merece toda a atenção e empenho na descoberta da emotividade que oculta. De entre os dezassete temas originais, muito cuidados nos mais pequenos detalhes sem nunca se apartar muito das raízes do fado mais puro, um destaque especial para a interessante história de Tiago Torres e musica de Paulo Paz: “Fado de Rosa Maria”, evocadora das crónicas de Pinto Carvalho. “O Teu Olhar é Portugal”, que une Alfama à Ribeira do Porto. “Trago Teu fado Guardado” (composição de P. Parreira, Pedro Pinhal e a própria Joana Amendoeira).
Uma estreia promissora para a fadista como editora e produtora com o trabalho que agora se apresenta. Como sempre, acompanhada por Pedro Amendoeira na guitarra portuguesa, Pedro Pinhal na viola de fado e Paulo Paz no baixo, bem como os mais recentes mas já costumeiros Filipe raposo (piano), Davide Zacarias (violoncelo) aos quais se junta a percussão de João Ferreira. Um grupo muito sólido, fiel e harmonioso. No tarot, o número sete simboliza “O Carro, O Triunfo”. Um êxito que não se concede facilmente; está reservado a uma pequena minoria que o obtém somente após uma luta coroada de esforço, inteligência, valentia, determinação e talento.
Texto e Foto: Javier Gonzalez
O sete é um número cabalístico que busca os significados ocultos da vida. São sete os pecados capitais e as virtudes, os dias da semana e as notas musicais, bem como as cores do arco-íris, o número das colinas de Roma e de Lisboa; sete foram as palavras proferidas por Cristo crucificado e são também sete as artes e os sábios da Grécia. Sete anjos com sete trombetas anunciarão o dia do Juízo Final.
Sete maravilhas tem o mundo e sete são os mares da Antiguidade, os dias da Criação e os braços do candelabro judeu. É, afinal, o número de Deus, o número da perfeição. Foi este o número que Joana Amendoeira escolheu para nomear o seu sétimo álbum, “Sétimo Fado”, composto por dezassete temas. Apresentado no CCB no passado mês de Abril, foi, naturalmente, o destaque do seu repertório no concerto que aconteceu na passada segunda-feira na Praça do Município em Lisboa, inserido no Festival dos Oceanos. Do professor Ruy Nery, figura incontornável para quem quer mergulhar a fundo no mundo do fado, chega-nos a ideia de que “o fado está vivo e, consequentemente evolui e cresce, à semelhança de qualquer ser vivo.
E assim se vão imiscuindo fados com marchas e estas com alguma balada, umas vezes acompanhadas da forma tradicional, outras por um quinteto de instrumentos – reminiscência de Mar Ensemble – sem embargo contudo da sua essência fadista. Fado Vianinha: “Todas as Horas São Breves”, talvez o melhor trabalho de Hélder Moutinho. “Fim da Saudade” (F. Cravo) onde a guitarra de Pedro Amendoeira brilha con luz propria; “Resposta Fácil” (F Corrido) e “O Nome que Tu me davas” (F. S. Luzia), com letra de João Monge, um dos melhores temas do álbum. A Alegre Marcha: Lisboa no Coração, onde uma discreta percussão faz o contraponto. As Sete Operações, tema divertido e original com letra de Vasco Graça Moura, entre outros.
A sua voz doce e limpa, cheia de nuances, perfeitamente equilibrada, vai acariciando cada verso sem alaridos desnecessários nem os adornos melodramáticos tão em voga hoje em dia. Vai-se tornando mais madura e profunda, ainda que em alguns momentos navegue ao sabor da frescura dos primeiros trabalhos. O seu timbre feminino parece contudo ocultar um nó na garganta, aquela pena-dor-saudade-tristeza e alegria, propriedades intrínsecas do fado. A maturidade profissional de uma artista detentora de um já extenso percurso profissional que sabe escolher os seus temas e tem a consciência exacta dos sentimentos que os poemas que canta encerram. Definitivamente, uma das fadistas mais sólidas e completas da cena actual.
Um álbum completo e variado. Fácil de ouvir pela diversidade e musicalidade, mas que nos merece toda a atenção e empenho na descoberta da emotividade que oculta. De entre os dezassete temas originais, muito cuidados nos mais pequenos detalhes sem nunca se apartar muito das raízes do fado mais puro, um destaque especial para a interessante história de Tiago Torres e musica de Paulo Paz: “Fado de Rosa Maria”, evocadora das crónicas de Pinto Carvalho. “O Teu Olhar é Portugal”, que une Alfama à Ribeira do Porto. “Trago Teu fado Guardado” (composição de P. Parreira, Pedro Pinhal e a própria Joana Amendoeira).
Uma estreia promissora para a fadista como editora e produtora com o trabalho que agora se apresenta. Como sempre, acompanhada por Pedro Amendoeira na guitarra portuguesa, Pedro Pinhal na viola de fado e Paulo Paz no baixo, bem como os mais recentes mas já costumeiros Filipe raposo (piano), Davide Zacarias (violoncelo) aos quais se junta a percussão de João Ferreira. Um grupo muito sólido, fiel e harmonioso. No tarot, o número sete simboliza “O Carro, O Triunfo”. Um êxito que não se concede facilmente; está reservado a uma pequena minoria que o obtém somente após uma luta coroada de esforço, inteligência, valentia, determinação e talento.
Texto e Foto: Javier Gonzalez
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