terça-feira, outubro 28, 2008

Entrevista com Ana Vitória ao «Jornal de Notícias»

Cultura
Joana Amendoeira: "Tem mesmo de se viver o fado"
A fadista lança, hoje, um novo trabalho, discográfico e videográfico, em que canta um conjunto de 19 fados acompanhada por um ensemble de 12 músicos

ANA VITÓRIA

Sem se desviar da tradição, Joana Amendoeira deu ao fado um novo brilho. Começou cedo nesta sua paixão. Que se lembre, foi aos seis anos. Agora, surge num trabalho em que, à formação tradicional da guitarra portuguesa e da viola de fado, junta um ensemble.
O CD, que inclui a oferta de DVD, é apresentado hoje, às 18 horas, com um concerto intimista no Teatro São Luiz, em Lisboa. O disco resulta da gravação ao vivo de um espectáculo realizado em 21 de Junho deste ano, na Praça de Armas do Castelo de São Jorge, em Lisboa, por alturas das festa da cidade. Deste concerto, nasceu o sexto disco da fadista.


«Como surgiu a ideia de juntar um CD e um DVD?
O desafio foi proposto por Helder Moutinho, também ele fadista e meu agente. Aliás, canto três canções dele neste disco, que junta 19 temas. Basicamente, focam os fados que fizeram parte do espectáculo de Junho, em Lisboa. Mas a verdade é que a ideia é muito anterior a isto.
É de quando, então?
Tudo isto aconteceu a partir momento em que, em Novembro do ano passado, fomos convidados para fazer um concerto com a Orquestra do Algarve. Na altura, foram feitos vários arranjos sobre o meu repertório. Depois de o João Godinho ter feito esse trabalho, ficámos com vontade de que as coisas não se resumissem apenas a um concerto. Então, concebemos um espectáculo mais pequeno. Em vez de uma orquestra, criámos um ensemble. Comigo, somos 13 em palco. Ainda bem que não sou supersticiosa.
Quem são os elementos desse novo grupo, com ensemble incluído?
O novo agrupamento é constituído por um quarteto de cordas, um de sopro e um acordeão, a que se junta a formação que tradicionalmente me acompanha. O João Godinho, que fez os arranjos, teve uma grande sensibilidade. Tocámos da mesma forma como se estivéssemos apenas em palco como formação tradicional de quatro elementos. Na verdade, este é um espectáculo muito fadista e isso também se sente no CD/DVD.
Quais são os temas escolhidos para este disco?
Podem ouvir-se fados que fazem parte do meu anterior disco, "À flor da pele", alguns deles com a assinatura de mestre Fontes Rocha, que é, para mim, uma grande uma referência.
Mas há também algumas novidades...
Sim. É verdade. Por exemplo, o Paulo de Carvalho musicou um poema de Agostinho da Silva, "Meu amor que te foste sem te ver", que é um dos meus novos fados preferidos. Depois, escolhi um poema de Vasco Graça Moura, "Era a noite que caía", que canto com a música de um fado tradicional. Outra novidade é um fado com um dos meus primeiros poemas, "Na ilusão de uma saudade", com música de Carlos Manuel Proença. No alinhamento, incluo ainda um fado com letra de José Luís Peixoto, "Amor, o teu nome", e outro com letra de Tiago Torres da Silva, "Saudade por cantar".
Como definiria o seu fado?
Considero-me uma fadista tradicional. Mas penso que é importante trazer novo repertório para o fado. Portanto, sou tradicionalista mas quero também contribuir para a renovação do repertório. Incentivo os músicos a comporem novos temas e a trazer a sua personalidade para o trabalho. Isso é importante.
Começou muito cedo a cantar fado. Hoje, sente que canta de maneira diferente?
Na verdade, comecei a cantar aos seis anos. Tinha 12 quando participei, pela primeira vez, na Grande Noite do Fado de Lisboa. No ano seguinte, voltei e saí vencedora. Aos 16 anos, acabei por gravar o meu primeiro disco, "Olhos Garotos", que foi logo muito bem aceite pela crítica. Mas é claro que, desde então, evoluí. E ainda bem que assim é. O fado que cantava aos 12 anos não é o mesmo que canto agora.
A maturidade é, então, fundamental para o fadista?
A maturidade é importante. Tem mesmo que se viver o fado. É essencial. Aos 12 anos, entusiasmava-me com a melodia. Era o que mais me inspirava e não tanto os poemas. Só que o fado, realmente, vive muito da letra, da palavra. Desde o meu primeiro disco, tenho vindo sempre a aprender, a crescer e a tomar consciência de que dar importância à palavra, ao poema, é o grande objectivo de um fadista. »

Jornal de Notícias, 27 de Outubro de 2008

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