quarta-feira, março 07, 2007

A noite no Royal Opera House por Hugo Bordeira




Público britânico ficou rendido ao 'novo fado' de Joana Amendoeira


Hugo Bordeira

em Londres

Uma presença doce e agradável em palco, um sorriso genuíno e encantador, a voz do novo fado personificada em Joana Amendoeira. Foi assim que, durante duas horas, no Lindbury Studio Theatre, novo espaço da Royal Opera House, em Londres, a fadista se apresentou na passada sexta-feira ao exigente público britânico numa das mais prestigiadas casas de espectáculos da Europa. Pelo meio quebraram-se duas barreiras simbólicas, uma vez que foi a primeira vez que ali actuou uma artista portuguesa a solo e foi também a estreia do fado nas exclusivas salas da Royal Opera House.


O concerto arrancou com Fado Cor do Sentimento e depois ouviram-se várias canções do último álbum: À Flor da Pele. Amália não foi esquecida no repertório do espectáculo onde se cantaram poemas de Ary dos Santos, José Luís Peixoto ou Pedro Homem de Mello e se tocaram várias músicas de José Fontes Rocha. No palco, Joana entoava tudo isto com o timbre suave que a caracteriza. Ao seu lado, Pedro Amendoeira (irmão) mantinha-se compenetrado nos acordes da guitarra portuguesa, ao passo que Pedro Pinhal (viola) e Paulo Vaz (viola baixo) nunca perderam a compostura de quem toca o fado numa tasca de Alfama.


É verdade que não era bem assim, não só porque este era um palco especial mas também porque na plateia (esgotada) estavam muitos portugueses a viver em Londres (metade da audiência) e muitos ingleses (a outra metade), sendo certo que muitos destes estavam mais deslumbrados com a melodia do que propriamente com os versos.


Uma originalidade neste espectáculo foi a curta entrevista realizada em palco pela jornalista Fiona Talkington da BBC Rádio 3, que durante cinco minutos questionou Joana Amendoeira. A fadista, com um inglês apurado, disse então que o fado é "a expressão da alma portuguesa" e tentou explicar porque é que a palavra "saudade" era um sentimento tão nacional.


Já depois do calor dos aplausos, Joana Amendoeira não cabia em si de contente quando falou ao DN: "Estar aqui esta noite é a concretização de um sonho, sobretudo pela recepção do público. Estou muito feliz, até porque o Reino Unido é um ponto de referência para a música." Considerada uma das mais promissoras fadistas da nova geração, Joana sabe bem os passos que quer seguir no futuro. "Sou tradicionalista, mas acho que é importante preservar as músicas antigas introduzindo-lhes novos poemas. Sou jovem e gosto de cantar os meus dias, a minha vida, a minha história."


A julgar pela recepção do público, bem se pode dizer que Joana está no caminho certo. No final, ouvia-se "Ah, fadiiista!" e os espectadores despediram-se com uma ovação de pé, a premiar os sons do fado da nova geração trazidos por Joana e os três músicos que a acompanham, que partiram para actuar em Jersey com a certeza de terem deixado a sua marca na capital britânica.


De regresso a Portugal, Joana Amendoeira sobe ao palco para um espectáculo único no cinema São Jorge, em Lisboa, amanhã (22.00).


Diário de notícias, Artes, 2 de Março de 2007

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